quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Olá queridos leitores, já viram a Edição de nº  73 da Revista Psique ? ' Quando o amor vira doença ' é o tema principal da revista, traz um assunto bastante importante e cada vez mais presente em nossa sociedade. O Amor Patológico, um amor devorante que ultrapassa o limite da sensatez e do racional e vira uma doença.

O amor patológico tem origem na relação da mãe com o filho e em sua disponibilidade para suprir as necessidades emocionais da prole em situações estressantes, principalmente em casos de separação.

A pessoa embarca numa união simbiótica na tentativa de fugir da insuportável sensação de abandono. Ela dirige toda sua atenção à pessoa amada, desdobrando-se em cuidados e gentilezas que nunca cessam porque simplesmente ela não sabe como controlar o impulso de agradar o parceiro. Numa postura obcecada, aquele que vive esse amor não consegue mudar de foco: seu objeto de desejo torna-se prioridade, enquanto os outros interesses ficam em segundo plano.

Esse amor é vivido por pessoas de personalidade vulnerável, marcada pela baixa autoestima e pelos sentimentos de rejeição e raiva. São pessoas que crescem em famílias desajustadas, com pouca atenção e carinho dos pais. Por isso, tentam compensar esses anos de ausência com um amor possessivo.


A pessoa tem dificuldade de estabelecer limites entre ela e o parceiro, manifestada pela atitude constante de manter o outro sobre controle e uma busca incessante pela fusão com ele. Os critérios diagnósticos para o amor patológico são semelhantes aos da dependência química.

Ansiedade ambivalente :

O amor patológico surge conforme o vínculo que a pessoa vivencia com a mãe durante os primeiros anos de vida. Esse tipo de amor ocorreria quando a pessoa experimenta, na infância, uma relação insegura com a mãe, sofrendo a ansiedade de separação ( um tipo de vínculo que os especialistas chamam de " ansioso ambivalente " ). A atenção e proteção da mãe oscila ( ela está presente para apoiar a criança em algumas situações, mas em outras não ) criando ameaças de abandono usadas por ela como meio de controlar a criança. Na fase adulta, ela agirá como se nunca soubesse se a pessoa amada vai estar presente ou ausente. Ela verá as outras pessoas como mais importantes e sentirá medo da perda, por isso, precisará ser mais vigilante com seus parceiros.

Tipos de apego :
  • No apego seguro - a mãe é sensível às necessidades da criança e promove confiança de que os pais estarão disponíveis, caso ela se depare com uma situação amedrontadora. A pessoa, então, se sente encorajada a explorar o mundo, estando apta a vivenciar o amor saudável durante a vida adulta.
  • No apego rejeitador - há constante rejeição por parte da mãe quando a criança procurava obter proteção, gerando falta de confiança de que terá ajuda quando precisar. A pessoa passa a tentar viver sem amor e sem ajuda dos outros, ou seja, tornar-se emocionalmente autossuficiente.
  • No apego ansioso-ambivalente - os pais estiveram disponíveis em algumas situações e não em outras, levando o bebê a vivências de separação e ameaças de abandono, usadas pelo pai como meio de controle. Isso gera incerteza quanto à disponibilidade dos pais e, consequentemente, à ansiedade de separação no relacionamento adulto.
Controle e dependência :

A pessoa com amor patológico presta cuidados ao parceiro, mas com o intuito de obter afeto, sem respeitar as necessidades e interesses do outro, muitas vezes com atitude crítica quando não recebe o esperado, contrariamente ao conceito de cooperatividade, que inclui ajuda desinteressada, tolerância e empatia social.
Pessoas que sofrem de amor patológico também têm dificuldade de estipular metas e de se manter focado nelas.

As principais estratégias utilizadas para controle são ligações telefônicas, seguir o parceiro, interrogar sobre as atividades dele, ser extremamente atencioso para com as necessidades dele e provocar ciúme. As reações químicas observadas no cérebro daqueles que vivenciam o amor patológico seriam muito parecidas àquelas encontradas em pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo ou TOC, uma alteração de comportamento que faz com que a pessoa tenha pensamentos persistentes de medo e ansiedade. Para aliviar o mal-estar, ela costuma realizar tarefas ou gestos repetitivos, como se desdobrar em cuidados dirigidos à pessoa amada.

O amor patológico se assemelha à dependência por drogas ou álcool. A pessoa experimenta uma sensação de abstinência quando está longe da pessoa amada, gasta muito tempo e energia em cuidados, abandona atividades para cultivar esse amor, sua dedicação exagerada traz problemas para a pessoa que ama e também para a pessoa amada.

Amor patológico apresentam critérios semelhantes à dependência,sinais e sintomas de abstinência quando há ameaça de abandono.

Descargas biológicas :

O estado de exaltação desse amor provocaria fortes descargas de adrenalina, o que pode explicar o estado de constante euforia. As sensações experimentadas por quem vive esse tipo de amor são semelhantes à provocada por altas doses de anfetamina. Isso acontece porque o amor produz sua própria substância, a feniltilamina.

Ao ver fotos do ser amado, se " acendem " algumas partes do núcleo caudado do cérebro, estrutura que regula a sensação de recompensa. São zonas ricas em dopamina, neurotransmissor que age no cérebro promovendo sensação de motivação e prazer, e endorfina, que desperta sensação de bem-estar e euforia .
Pessoas com amor atológico não têm qualquer transtorno psiquiátrico, o que mostra que esse quadro pode surgir isoladamente. Outro achado é o alto risco de suicídio,maior prevalência de depressão e de transtornos ansiosos apresentaram TOC.

As teorias do amor :

Ser rejeitado por um grande amor é uma das experiências mais dolorosas da experiência humana.

Diagnóstico diferencial :

  • Amor saudável - o amor ocorre com controle e visa realização pessoal; 
  • Erotomania - a pessoa apresenta delírios de que está sendo amada por uma pessoa desconhecida e de posição social superior à sua; 
  • Ciúme patológico - a pessoa demonstra medo da perda, resultado da baixa autoestima e da sensação de insegurança;
  • Transtorno de personalidade borderline - a pessoa apresenta alta impulsividade e pela instabilidade emocional desde a infância, traços que podem se manifestar sobre o parceiro em situações de ameaça de abandono; 
  • Co dependência - a pessoa manifesta comportamento desajustado que se caracteriza pela dependência mútua numa relação; o problema está na dificuldade de lidar com uma pessoa dependente ( por jogo, drogas, sexo, etc ); 
  • Transtorno obessivo-compulsivo - a pessoa tem pensamentos intrusivos e persistentes que geram um comportamento repetitivo.
Critérios para diagnóstico de amor patológico :
  •  SINAIS E SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA - Quando o parceiro está distante (física ou emocionalmente) ou perante ameaça de abandono, podem ocorrer: insônia, taquicardia, tensão muscular, alternância de períodos de letargia e intensa atividade.
  •  O ATO DE CUIDAR DO PARCEIRO OCORRE EM MAIOR QUANTIDADE DO QUE O INDIVÍDUO GOSTARIA - O indivíduo costuma se queixar de manifestar atenção ao parceiro.
  •  ATITUDES PARA REDUZIR OU CONTROLAR O COMPORTAMENTO PATOLÓGICO SÃO MAL SUCEDIDAS - Tentativas frustradas de diminuir ou interromper a atenção despendida ao companheiro.
  •  EXCESSIVO DISPÊNDIO DE TEMPO NO CONTROLE DAS ATIVIDADES DO PARCEIRO - A maior parte da energia e do tempo do indivíduo são gastos com atitudes e pensamentos para manter o parceiro sob controle.
  • ABANDONO DE INTERESSES E ATIVIDADES ANTES VALORIZADOS - Como o indivíduo passa a viver em função dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realização pessoal e profissional são relegadas.
  • O AMOR PATOLÓGICO É MANTIDO, APESAR DOS PROBLEMAS PESSOAIS E FAMILIARES - Mesmo consciente dos danos resultantes desse comportamento para sua qualidade de vida, persiste a queixa de não conseguir controlar tal conduta.
O que fazer ? :

O primeiro passo é o paciente se conscientizar do problema. O tratamento inclui psicoterapia psicodinâmica, pode aliviar sintomas que, provavelmente, estão presentes desde a infância.


Texto adaptado por Fellipe Nascimento

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